quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

crítica: "capitu" mostra que diretor não está acima do bem e do mal

assisti ao dois primeiros cápítulos da microsséire "capitu" de luiz fernando carvalho. Li e ouvi muitas coisas e pessoas falando sobre a produção, como era diferente, uma linguagem nova para televisão, como é bonita, dos novos atores, blá, blá, blá... mas demorou até encontrar uma crítica de alguém que realmente conhece o trabalho do diretor e que não apenas puxa-se o saco do mesmo.

até que enfim encontrei e fiz questão de publicar.


crítica: "capitu" mostra que diretor não está acima do bem e do mal

ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Cinema


Talvez seja difícil para quem não conhece a obra do diretor Luiz Fernando Carvalho avaliar seu trabalho em "Capitu", leitura "pop" de "Dom Casmurro", de Machado de Assis, que estreou em forma de microssérie na noite desta terça (09) na Globo. Quem mal passou os olhos pelo que o diretor fez nas novelas ou no cinema talvez não perceba que o primeiro capítulo repete, com roupagem menos erudita, a gramática empregada por ele no filme "Lavoura Arcaica".

O primeiro e único longa de Carvalho, apontado por muitos críticos como um dos mais importantes da chamada "retomada do cinema brasileiro", comete o erro capital de ser literal e reiterativo. Em "Capitu", Carvalho livra-se da literalidade ao apostar em um formato nada naturalista --os personagens trafegam por um cenário de sonhos que parece existir apenas nas reminiscências e na amargura do velho narrador. Mas a reiteração se mantém com a repetição da estrutura do romance, capitular e esquemática, como era comum nos folhetins, inclusive com a colocação de letreiros. E até de segmentos inteiros do texto original.

(Vale destacar aqui a trilha sonora, que arremata o rótulo pop. Tem até "God Save The Queen", do Sex Pistols. Combinar punk com Machado de Assis: o máximo da subversão!)

Carvalho tem mão para escolher novos atores e fazer com que entreguem o que quer. Michel Malamed, o dom Casmurro narrador; César Cardadeiro, o Bentinho jovem; Letícia Persilles, a Capitu também jovem; e outros nomes mais ou menos conhecidos que se revezam na tela são prova disso. Por mais que o exagero os pressione, parecem estar à vontade com isso. Vê-los interpretar é um dos remédios que atenuam o enfado dos excessos.

"Capitu" ainda não terminou, é bem verdade. Está apenas começando. Pode-se dizer que fica entre "Hoje é Dia de Maria", uma realização invejável, e "A Pedra do Reino", uma ousadia inconseqüente, ambos do mesmo diretor. Se corrige eventuais erros de rota, talvez ainda peque em outros conceitos. A verdade é que o olhar de Carvalho para o audiovisual, especialmente a televisão e o cinema, tem qualidade e é diferenciado. Só não está acima do bem e do mal.

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